Ele sentou ao meu lado, paciente,
e soltou as palavras que nunca mais saíram de dentro de mim:
“A anarquia não tem espaço pros
fracos. Anarquia é para os fortes.”
Eu o entendia. Sem tempo para
descanso ou comodismo, o preço da liberdade e da qualidade de vida era alto.
Talvez, se eu e meus colegas lutássemos a partir de agora, um dia nossos netos
veriam uma ponta do que é um mundo melhor. E isso só ocorreria se nossos filhos
e os filhos deles continuassem lutando, continuassem lutando pela briga que
compramos.
Hoje, anos depois, apenas sonhos
frustrados. O que fazer contra um mercado que consegue vender QUALQUER COISA?
Eu vi minhas ideias iniciais se tornarem fonte de renda dos outros, a união se
tornou apenas uma lógica propagandista. Nós queríamos derrubar todos os ídolos
e agora alguns de vocês são os mais novos idolatrados.
Sinto-me impotente, como se me
faltasse partes de mim. Por um tempo houve quem estava ao meu lado, e estas
pessoas eram meus braços e pernas, assim como eu era os delas. Juntos, éramos
um corpo forte, capaz de construir. Mas nada nos restava agora. Eu não sei bem
o que foi que nos separou, se foi a exigência do mundo em que vivemos ou se
foram as frustrações do caminho. Nos mutilaram. É porque fomos fracos.
Nossos avós já começaram a luta,
há tempos. Se hoje nos derrubaram é porque antes disso paramos de lutar. Esquecemos-nos
de onde viemos e fechamos os olhos para onde querem nos mandar. E eles querem é
nos mandar de volta.